Cracolândia vê movimento crescer 21% após dois anos de queda
A movimentação de pessoas que usam e traficam drogas a céu aberto voltou a crescer na região da Cracolândia, no centro de São Paulo, após dois anos de queda. A média de frequentadores chegou a 579 pessoas por dia de janeiro a setembro de 2021, número 21% maior do que o registrado no mesmo período em 2019 (478) e 14% maior que em 2020 (506).
Além disso, o mês de setembro de 2021 foi o mais movimentado na região desde novembro de 2019, com média de 773 pessoas por dia no “fluxo” da Cracolândia, quase o dobro do registrado no mesmo período dos dois anos anteriores.
É o que revelam dados da Prefeitura de São Paulo, que estima por meio da GCM (Guarda Civil Metropolitana) a quantidade de pessoas na região desde julho de 2018 com o Programa Dronepol.
O levantamento é realizado por meio de cálculos com fotografias aéreas feitas por drones na chamada “cena de uso aberta da Luz”, termo usado pela prefeitura para descrever a área de venda e consumo de droga explícito nas ruas da região da Luz, no centro de São Paulo. Atualmente, a Cracolândia se concentra no quadrilátero entre as alamedas Cleveland, Dino Bueno, Nothmann e rua Helvétia.
O aumento constatado em 2021 ocorre após uma série de reduções desde o início do monitoramento. Em julho de 2018, início da série histórica, foram registradas em média 1.725 pessoas no local. Após agosto e setembro com aumento —1.854 e 1.708 pessoas, respectivamente— o número caiu drasticamente em outubro daquele ano, e continuou caindo em média até 2021.
O secretário executivo de Projetos Estratégicos da Prefeitura de São Paulo, Alexis Vargas, afirma que a melhora dos indicadores da pandemia pode ter feito o movimento crescer na Cracolândia. Ele também considera que outros indicadores mostram melhora na situação do local durante a pandemia.
“Tem uma queda no número de ‘viradas’ de fluxo [ocorrências de brigas, tiroteios e arrastões], queda no número de roubos e furtos, e a polícia relata que tem menos droga lá”, diz. “Quando a população de rua estava crescendo em 2020, o movimento diminuiu na Cracolândia. Isso está vinculado com o conjunto amplo de estratégias da prefeitura”, diz. https://flo.uri.sh/visualisation/7667634/embed?auto=1A Flourish chart
A posição atual do fluxo mostra que a Cracolândia se mantém como um dos principais desafios da capital paulista mais de 31 anos depois da primeira apreensão de crack. Desde então, quando a “cena de uso aberta” ainda se formava, o movimento prosperou, estabeleceu-se e mudou de local apenas por alguns metros, mesmo após diversas interferências de prefeitos, governadores, ações policiais, ONGs e reintegrações de posse de imóveis.
O fluxo já esteve, por exemplo, nos cruzamentos da rua Helvétia com a alameda Barão de Piracicaba e da Helvétia com a Cleveland; exclusivamente na praça Princesa Isabel; e na rua dos Gusmões, próximo da esquina com a alameda Barão de Limeira.
Em comum a todos os locais dos acampamentos montados por traficantes e usuários através das décadas está a degradação humana, urbana e o aumento da violência no centro de São Paulo como resultados. Os acampamentos também exigem centenas de milhões de investimento em serviços de saúde da prefeitura e do policiamento da GCM e Polícia Militar.
Estatísticas do programa Redenção, criado pela gestão Doria/Covas para combater a Cracolândia, dão conta da gravidade da situação local em 2021. De janeiro a setembro deste ano, equipes municipais realizaram um total de 25.483 abordagens, 3.491 atendimentos médicos, 9.094 atendimentos de enfermagem e 2.337 encaminhamentos à rede de assistência social na área.
O Seas (Serviço Especializado de Abordagem Social), que faz atendimento à população de rua, calcula 33.031 abordagens na região da Nova Luz no mesmo período de 2021, das quais 4.405 encaminharam os usuários a centros de acolhimento.
Fonte: R7